INSURGIMENTO DA IMAGEM E SUSTENTABILIDADE CULTURAL – VIVÊNCIA ARTE-EDUCATIVA

Foto: Marcos Morais

Quinta-feira (20/07), eu e meus alunos universitários – companheiros na caminhada acadêmica – compartilhamos as nossas impressões numa visita ao Bioparque da Amazônia (Macapá/AP).

Foi uma “Vivência Arte-educativa” com o tema “Insurgimento da imagem e sustentabilidade cultural”. Oito alunos da graduação em licenciatura em artes visuais e um convidado: Professor Marcos Morais – docente da Escola de Artes Cândido Portinari; colaboração do discente Matheus Xavier (programação visual)

O objetivo era visitar a Exposição “Arte de povos de terreiro: construindo caminhos decoloniais” – com a participação de Claudete Nascimento – artista, ativista cultural, pesquisadora e professora.

Foto: João Felix Pereira Neto
Foto: João Paulo Lopes dos Anjos

O nosso envolvimento no evento foi um momento singular para pensarmos a nossa presença como parte da natureza, bem como, as nossas feituras artística cultural, como ações de reverência e respeito ao ecossistema – formas de interação que buscam um sistema estável ,equilibrado e autossuficiente.

Foto: Maria Emília da Silva Ribeiro

A nossa “Vivência Arte-educativa” foi uma ação do Grupo de Pesquisa Estudos Sobre Arte Moderna e Contemporânea/CNPq-UNIFAP. Assim, procuramos experimentar a história da arte como história da cultura. Uma história elaborada com imagens e não por via dos conceitos – mergulhada numa cultura da imagem que envolve a produção, a distribuição e a utilização da arte em diversas civilizações e momentos históricos diferentes.

O momento da vivência foi importante para pensarmos as imagens dos “outros” – as imagens dos povos de terreiro.

A expressão a “arte dos outros”, é aplicada aqui porque todo o pensamento ocidental sobre a imagem está calcado no fato de que ela aparece em função de certo tipo de agenciamento.

Um forma de agenciamento no qual entra, as categorias que orientam sua interpretação; os regimes de emoção suscitados por elas; as plataformas que possibilitam a sua circulação.

Desta maneira, esse agenciamento, por sua vez, está ancorado na formação a partir do século XVIII, na Europa. O filósofo e crítico Peter Bürger chamou essa formação de “Instituição Arte”.  Assim chamou porque seu sentido era dado por um certo dispositivo de exposição que visava educar o olhar do expectador para uma compreensão sobre o significado das imagens, chamada a partir de então de arte. Onde ficariam as imagens de matriz africana, indígena – a “arte dos outros “?

Ou seja, a “arte dos outros” precisa encontrar formas de serem vistas, porque foram invisibilizadas e silenciadas historicamente. A “arte dos outros” precisa encontrar estratégias de insurgimento e reivindicar sua visibilidade.

Nesse sentido, precisamos ver, vivenciar, conversar e produzir.

Produzimos muitas imagens e vídeos no nosso percurso.

Joaquim Netto

Marcos Morais

João Felix Pereira Neto

João Paulo Lopes dos Anjos

José Matheus Correia de Souza

Lukah Miranda

Maria Emília da Silva Ribeiro

Paula Danieli Botelho de Souza

Tamires Maria dos Santos de Oliveira

Valéria Pinto Morais

Fotografia Moderna – Experiências de Fotógrafos Brasileiros


Falar em fotografia moderna é falar numa questão da visualidade fotográfica que marca a primeira e segunda metade do XX: a tensão entre a fotografia figurativa e a fotografia abstrata. Neste percurso vamos nos encontrar com três fotógrafos emblemáticos: Geraldo de Barros, Thomaz Farkas e José Oiticica Filho (JOF) – fotógrafos que marcam esse novo discurso sobre a fotografia abstrata no Brasil, na década de 1950 e nos anos seguintes.

As fotografias de Geraldo enfatizam o ritmo e a modulação do espaço – é um significativo experimento neste período assinalado pela energia da fotografia construtiva, que envolve a criação de forma plástica e a noção de tempo – condensados no processo fotográfico. Neste contexto, a raiz de uma fotografia
abstrata passa a crescer paulatinamente no interior do fotoclubismo, como uma produção desviante dos padrões dominantes. É importante observar que Geraldo de Barros, antes de ser fotógrafo é artista plástico. Assim, as suas fotoformas dialogam muito próximo da gravura.

Geraldo de Barros | Fotoforma (1949/2013)  (credits: Tierney Gardarin Gallery)

Outro nome nessa vertente da fotografia moderna brasileira é Thomaz Farkas. Ele trabalhou acentuadamente formas geométricas em suas fotos – diagonais que rompem o silêncio da composição, e esvaziam o sentido do objeto, como em Telhas. Thomaz Farkas também trabalhou com sobreposição
de exposição fotográfica. Enquanto Farkas superpõe seus registros fotográficos sobre os negativos, Geraldo, usa processos diversos, inclusive interferências gráficas sobre os negativos. que geram efeitos
inusitados.

Thomaz Farkas – Telhas, 1947 – B/w prata sobre papel – 29,50 cm x 39,50 cm (Reprodução fotográfica João L. Musa/Itaú Cultural)

Geraldo de Barros trilha um caminho com múltiplas experimentações: sobreposição de negativos, deslocamento da câmera fotográfica no momento dos registros, rabiscos é interferências gráficas sobre os negativos. Geraldo de Barros olha para os campos da pintura, do desenho, da gravura e dialoga com a
fotografia que deixa de ser um produto apenas mecânico da câmera.

Geraldo de Barros e Thomaz Farkas não estão preocupados com o purismo da técnica fotográfica, mas na busca de experimentos e possibilidades de novos olhares, de outras maneiras de mostrar essas imagens e impulsionar o observador a novos olhares.

Neste percurso, outro nome na fotografia moderna brasileira é José Oiticica Filho – JOF. Pai do artista brasileiro Hélio Oiticica. JOF também vai desenvolver uma fotografia experimental que dialoga com essa vertente da fotografia abstrata na década de 1950. Uma produção fotográfica que se aproximava da abstração, confirmando o diálogo amplo com a tradição geométrico-construtiva brasileira, presente nas
artes visuais dos anos 50, nos movimentos da arte moderna nacional e internacional, e que marcaria a compreensão das experiências desses fotógrafos nos anos 80 e nas décadas posteriores.

José Oiticica Filho – Ouropretense, 1955 – Fotografia, gelatina e prata sobre papel (Reprodução fotográfica Iara Venanzi/Itaú Cultural)

Para aqueles que querem outros exemplos, sugiro que busquem pesquisar a produção do artista americano Man Ray, na primeira e segunda metade do século XX. Os deslizamentos de sentidos na imagem, provocados pelo experimentalismo da técnica da fotografia (enquadramento), e que levam o
observador a outras realidades.

Man Ray 1929 – Anatomias – Google Arts & Culture

Considerações Finais:

O intuito deste texto não é gerar uma contraposição entre pintura, fotografia, ou qualquer outro meio, ou entre modernidade e tradição, no contexto da historiografia artística, mas, verificar a existência de forças de mesma mentalidade ou contrárias que se justapõem em momentos distintos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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70, Ltda, 2010.
BARTHES, Roland. A câmara clara: nota sobre a fotografia. Rio de Janeiro: Nova Fronteira,
1984.
BENJAMIN, Walter. A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica. In Obras
escolhidas. 2a edição. São Paulo: Brasiliense, 1994.
BORGES, Maria Eliza Linhares. História & fotografia. Belo Horizonte: Autênctica, 2008.
CRARY, Jonathan. Técnicas do observador: visão e modernidade no século XIX/Jonathan
Crary; tradução Verrah Chamma; organização Tadeu Capistrano. Rio de 227 Janeiro:
Contraponto Editora, 2012.
FABRIS, Annateresa. O desafio do olhar: fotografia e artes visuais no período das
vanguardas históricas. São Paulo: Editora WMF – Martins Fontes, 2011.
____. Uma outra história? A different history of art. In Locus: Revista de
História, Juiz de Fora, v. 15, p. 27-41, 2002.
____. (org.). Fotografia: usos e funções no século XIX. São Paulo: Edusp,
1991.
FATORELLI, Antônio. Fotografia e modernidade. In SAMAIN, Etiene. O fotográfico. São
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FLUSSER, Vilém. Filosofia da caixa preta: ensaios para uma futura filosofia da
fotografia. São Paulo: Relume Dumará, 2002.
GONZÁLEZ FLORES, Laura. Fotografia e pintura: dois meios diferentes? Tradução Danilo
Vilela Bandeira. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2011.
MELLO, Maria Teresa Bandeira de. Arte e fotografia: o movimento pictorialista no Brasil.
Rio de Jnaeiro: FUNARTE, 1998.


Links
https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/27/27131/tde-13082009-
154838/publico/5062840.pdf


Joaquim Netto:
Doutor e mestre em Artes Visuais – linha de Pesquisa: História e Crítica da Arte – PPGAV/EBA/UFRJ. Pós Doutorado em História, crítica e educação – PPGARTES/ICA/UFPA. Especialização em Tecnologias digitais aplicadas à educação – UNIAMERICA/IC. Possui graduação em Educação Artística com Licenciatura Plena em Artes Plásticas pela Universidade Federal do Pará – UFPA (1995). É Professor do Curso de Artes Visuais e Professor Convidado do Curso de Jornalismo da Universidade Federal do Amapá. Líder do Grupo de Pesquisa: Estudos sobre arte moderna e contemporânea em Macapá-CNPq.